Educação é a chave para um bom futuro, que pode ser visto agora em outras nações que investem nela faz tempo. Ela permite que saiamos do lado pobre da estatística dos países que investem em educação. O ensino de ciências é a porta de entrada para a sociedade tecnológica em que vivemos. Você pode até entrar pela janela, mas todo mundo vai perceber.
A falta de investimentos
adequados e o contingenciamento de verbas em ciência, tecnologia e informação
têm maltratado demais o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro.
Nos comparar com o resto do mundo, embora nem sempre seja adequado, pode ajudar
a nos vermos com certo distanciamento ideológico, às vezes necessário.
Podemos bater na velha
comparação Brasil-Coreia do Sul, guardadas as devidas proporções geográficas e
culturais. Nos anos de 1960 o Brasil apresentava uma renda per capita de cerca
de 1800 dólares enquanto que os sul-coreanos tinham renda de 900 dólares. Hoje,
estamos batendo na casa dos 10 mil dólares e eles em 32 mil. Perdemos o bonde,
parece. Claro, você pode dizer que comparar países tão díspares em tamanho e
população é covardia. Davi bate Golias.
Por outro lado, nos
compararmos a países de mesmo tamanho e população é pior porque perdemos mais
feio ainda. Veja a China. É sabido e ressabido que os chineses estão anos-luz à
frente do Brasil em termos de investimentos em ciência e tecnologia. Basta pegar
como exemplo a Administração Espacial Nacional da China, criada em 1993, cujo
braço executivo é a Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China,
criada em 1998. Em 20 anos de existência, a Corporação já conseguiu realizar
diversos voos e levar vários astronautas ao espaço. Já por aqui, a Agência
Espacial Brasileira, criada em 1994, vai muito mal das pernas. E com certeza
isso não se deve à qualidade das pessoas que lá trabalham. Se deve, dura
realidade, à falta continuada de projetos com investimentos continuados. Não se
pode investir 100 milhões num ano e depois ficar 5 anos apenas com verba de
custeio. Não dá. Tudo vira sucata.
Se nos compararmos com a
Rússia, perdemos mais ainda porque eles herdaram uma formidável estrutura da
antiga União Soviética. Já começaram muito, muito na frente.
Mas o que todos estes países
têm em comum? O investimento em educação, ciência, tecnologia e informação é
constante e há a percepção real de que isto não é um gasto. É investimento
pesado num futuro que pode e deve ser construído da melhor maneira possível.
Fazer isto evita, por exemplo, gastos excessivos com saúde não preventiva.
Sabe-se que nos Estados Unidos, para cada grupo de 100 mil habitantes, morrem
cerca de 655 pessoas sem diploma universitário e apenas 239 com diploma de
curso superior ou mais. O simples uso do cinto de
segurança pode estar relacionado ao nível educacional dos usuários de veículos
e isto pode salvar vidas. Claro, há exceções. Da mesma forma, uma população com
acesso a uma educação de qualidade saberá reivindicar melhor saneamento básico,
políticas sociais e por aí vai.
Tenho a impressão de que nós
tupiniquins batemos cabeça, faz décadas. Há verba num ano e no ano seguinte é
considerado normal que não haja mais ou que haja cortes brutais que
inviabilizam a continuidade do que já foi feito. E pronto. Fica tudo ao
deus-dará. Esta é uma forma pouco inteligente de agirmos porque o futuro vem e
nos atropela com altíssimos índices de analfabetismo, violência e falta de
saneamento básico. Ou seja, não construímos o futuro que queremos e depois temos
o desplante de nos espantarmos com isso lá na frente, quando Inês já morreu.
Publicado originalmente no jornal Cruzeiro do Sul.