quinta-feira, 11 de março de 2021

Dinheiro é bom e a educação agradece

Educação é a chave para um bom futuro, que pode ser visto agora em outras nações que investem nela faz tempo. Ela permite que saiamos do lado pobre da estatística dos países que investem em educação. O ensino de ciências é a porta de entrada para a sociedade tecnológica em que vivemos. Você pode até entrar pela janela, mas todo mundo vai perceber.

A falta de investimentos adequados e o contingenciamento de verbas em ciência, tecnologia e informação têm maltratado demais o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro. Nos comparar com o resto do mundo, embora nem sempre seja adequado, pode ajudar a nos vermos com certo distanciamento ideológico, às vezes necessário.

Podemos bater na velha comparação Brasil-Coreia do Sul, guardadas as devidas proporções geográficas e culturais. Nos anos de 1960 o Brasil apresentava uma renda per capita de cerca de 1800 dólares enquanto que os sul-coreanos tinham renda de 900 dólares. Hoje, estamos batendo na casa dos 10 mil dólares e eles em 32 mil. Perdemos o bonde, parece. Claro, você pode dizer que comparar países tão díspares em tamanho e população é covardia. Davi bate Golias.

Por outro lado, nos compararmos a países de mesmo tamanho e população é pior porque perdemos mais feio ainda. Veja a China. É sabido e ressabido que os chineses estão anos-luz à frente do Brasil em termos de investimentos em ciência e tecnologia. Basta pegar como exemplo a Administração Espacial Nacional da China, criada em 1993, cujo braço executivo é a Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China, criada em 1998. Em 20 anos de existência, a Corporação já conseguiu realizar diversos voos e levar vários astronautas ao espaço. Já por aqui, a Agência Espacial Brasileira, criada em 1994, vai muito mal das pernas. E com certeza isso não se deve à qualidade das pessoas que lá trabalham. Se deve, dura realidade, à falta continuada de projetos com investimentos continuados. Não se pode investir 100 milhões num ano e depois ficar 5 anos apenas com verba de custeio. Não dá. Tudo vira sucata.

Se nos compararmos com a Rússia, perdemos mais ainda porque eles herdaram uma formidável estrutura da antiga União Soviética. Já começaram muito, muito na frente.

Mas o que todos estes países têm em comum? O investimento em educação, ciência, tecnologia e informação é constante e há a percepção real de que isto não é um gasto. É investimento pesado num futuro que pode e deve ser construído da melhor maneira possível. Fazer isto evita, por exemplo, gastos excessivos com saúde não preventiva. Sabe-se que nos Estados Unidos, para cada grupo de 100 mil habitantes, morrem cerca de 655 pessoas sem diploma universitário e apenas 239 com diploma de curso superior ou mais. O simples uso do cinto de segurança pode estar relacionado ao nível educacional dos usuários de veículos e isto pode salvar vidas. Claro, há exceções. Da mesma forma, uma população com acesso a uma educação de qualidade saberá reivindicar melhor saneamento básico, políticas sociais e por aí vai.

Tenho a impressão de que nós tupiniquins batemos cabeça, faz décadas. Há verba num ano e no ano seguinte é considerado normal que não haja mais ou que haja cortes brutais que inviabilizam a continuidade do que já foi feito. E pronto. Fica tudo ao deus-dará. Esta é uma forma pouco inteligente de agirmos porque o futuro vem e nos atropela com altíssimos índices de analfabetismo, violência e falta de saneamento básico. Ou seja, não construímos o futuro que queremos e depois temos o desplante de nos espantarmos com isso lá na frente, quando Inês já morreu.

Publicado originalmente no jornal Cruzeiro do Sul.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Engage, Mr. Sulu!

Não sei se alguém que me lê assistiu ou assiste a primeira fase da série icônica Star Trek. Se não viu, veja. Quando eu assistia, lá na minha infância, adorava os efeitos especiais, que achava o máximo. Lindos! Vendo hoje, foco na história e deixo os efeitos pra lá.

Mas me lembro, com viva memória, dos momentos em que a Enterprise, a nave dos viajantes, entrava em velocidade de dobra. O capitão Kirk dizia: Engage, Mr. Sulu! O que era a tal velocidade de dobra eu nem fazia ideia. Hoje sei que é uma velocidade além da velocidade da luz, que já faz fantásticos 300 mil km por segundo. Sergião, ir além da velocidade da luz é besteira, Einstein já mostrou isso faz tempo! Ora, ora, direi ouvir estrelas...

Dentro do contexto da Relatividade Especial, o que Einstein propôs, matematicamente formulado, foi que objetos com massa não-nula não podem atingir a velocidade da luz. Corpos com massa nula, por outro lado, como é o caso dos fótons, viajam na velocidade da luz. Dentro da Relatividade Geral, no entanto, não há restrições globais neste sentido, mas apenas que LOCALMENTE, os princípios da Relatividade Especial sejam seguidos.

Como?!

Bom, a Relatividade Geral nos ensina que o tempo e o espaço não são independentes. Eles se comportam como uma única entidade, chamada de espaço-tempo. Esta entidade é, na verdade, um sistema de coordenadas no qual tempo e espaço são interdependentes, formando o que os matemáticos chamam de variedade de 4 dimensões. A taxa de variação do tempo depende da velocidade do observador num determinado referencial. 

Bom, mas como ir além da velocidade da luz? Pois é, em 1994 um físico chamado Miguel Alcubierre, que originalmente trabalhava na busca de soluções numéricas para as equações de Einstein, propôs em um artigo chamado The Warp Drive: hyper-fast travel within general relativity um mecanismo para que viagens desse tipo fossem possíveis. 


O básico do modelo pode ser entendido por meio do chamado Universo Inflacionário, uma ideia proposta do Alan Guth e que pode ser vista aqui, e que é dada no artigo de Alcubierre como exemplo. Imagine dois observadores que se movem conjuntamente e que tem uma velocidade relativa de separação. Ou seja, os dois observadores estão se separando porque a distância entre eles aumenta com o tempo. A velocidade relativa será dada pela razão entre a distância própria que separa os observadores e o tempo próprio. Quanto mais rapidamente eles se separarem, maior será a velocidade relativa de separação. Não há limites para esta velocidade, pois cada observador está localmente respeitando a velocidade da luz. Dizemos que estão dentro dos próprios cones-de-luz. Concordo com você! É uma ideia bastante ousada, mas perfeita do ponto de vista matemático. E parece, contrário ao que possamos intuitivamente achar correto, que o Universo gosta deste mecanismo. Tanto é assim que o usou para se expandir: expandindo o próprio espaço-tempo. Claro, podemos fazer o mesmo para aproximar dois observadores.

Voltando ao artigo do Alcubierre. Ele propõe, então, que o espaço-tempo seja distorcido da seguinte maneira: atrás da nave o espaço-tempo irá se expandir enquanto que na frente, contrair. Com isso a nave é "empurrada" numa dada direção. Claro que ele mostra matematicamente está possibilidade. Ou seja, ele mostra que, ao menos matematicamente, é possível termos motores de dobra (os warp drives).

Na prática, como ficam as coisas? Bem, já tem gente tentando construir este tipo de motor. Quem quiser treinar o Inglês pode ler mais aqui.